quinta-feira, 3 de abril de 2014

Suave é a Noite (Tender is the Night) - F. Scott Fitzgerald

Depois da leitura de O Grande Gatsby ter me impressionado tanto, foi inevitável que surgisse uma curiosidade por outros livros do F. Scott Fitzgerald.
Suave é a Noite foi um dos muitos livros que me mandaram ler na faculdade com o prazo de uma semana e claro, não vi graça e mal lembrava como era.
Dessa vez intercalei alguns outros livros menos densos pra tapear a concentração e entender cada detalhe. Não é um livro de leitura fácil se você for daqueles leitores que se apegam aos detalhes, que são abundantes se tratando de um autor desse tamanho. 
Então o primeiro conselho pra ler este livro é: calma, alma minha, calminha...
Me lembro de ouvir falar em algum lugar que se tratava de um livro autobiográfico, baseado no casamento do autor com Zelda Sayre, um casamento sempre retratado como cheio de amor, dedicação e paranóia (https://www.youtube.com/watch?v=DzoOA473wq0)
Zelda foi internada em um hospício quatro anos antes do lançamento de Tender is The Night. O enredo e a cronologia da vida do autor deixam poucas dúvidas quanto ao caráter autobiográfico do romance.
Outro motivo que me fez reler foi saber que o Fitzgerald considera este livro sua melhor obra. Foi escrito 9 anos depois de O Grande Gatsby e é muito clara a maneira que a narrativa é mais densa e madura que o primeiro.
Em comum com Gatsby temos aquela atmosfera Manoel Carlos, americanos milionários em suas propriedades incríveis, ocupando-se de nada além de festas, bebidas e vida social. E nos dois livros, sem que a gente perceba, as personagens vão sendo dissecadas e a gente se vê diante de uma essência humana, animal, vil, indesculpável e tudo aquilo que implora o Poema em Linha Reta, do Pessoa.
A história gira em torno da milionária Nicole Warren e o médico Dick Diver. Eles se conhecem em um hospício, onde Dick é o psiquiatra e Nicole uma paciente internada com sérios problemas mentais.
Os dois se apaixonam, se casam e Dick passa a representar um misto de médico, marido e pai pra sua esposa. Apesar da aparente melhora, Nicole ainda sofre de crises nervosas agudas e constrangedoras. Dick permanece firme, dedicado. Essa dedicação começa a ruir quando Dick se apaixona por uma atriz mais jovem. A partir daí inicia-se um processo de ruína pessoal do psiquiatra, o que nos leva a pensar que ele dependia mais de sua dedicação à Nicole que a própria.
Durante os primeiros anos do casamento, Dick é conhecido como um homem encantador, confiante. Nicole é uma das mulheres mais belas a andar pelo velho continente. Os dois, assim como o casal Zelda e Fitzgerald, são tidos como ícones de elegância e estilo da Lost Generation
É uma bonita história sobre amor, dedicação, loucura, envelhecimento e principalmente, sobre a maneira que um caminho de escolhas generosas pode fazer com que a gente se perca de um jeito irreversível.
Dick vai aos poucos perdendo o aparente controle que tinha sobre si mesmo, colocando em questão alguns conceitos como reciprocidade, amor, generosidade, dedicação.
F. Scott mantém nessa obra aquilo que me fez gostar tanto dele desde O Grande Gatsby. Mantém nuances muito sutis, ou seja, dá pra ler sem perceber nenhuma profundidade na história, dá pra ler, como já vi algumas pessoas comentando, como se fosse só uma história besta obre uns ricos pela Europa, ou da maneira que a adaptação do Gatsby pro cinema fez crer (Macondo, no fim, não pode ser só uma cidade imaginária?).
F. Scott Fitzgerald foi de ícone da era do Jazz e referência absoluta em literatura ao lado de grandes como Hemingway e Gil Pender (brinks) pra decadência do alcoolismo, estagnação artística completa e morte aos 44 anos.
É como se o autor tivesse previsto sua decadência antes mesmo que ela acontecesse através de Dick Diver, e é difícil saber quem definiu quem.
Doce, trágico, gentil, realista. Isso é Fitzgerald, em narrativa, pessoa e personagem.
Eu não sei vocês, mas me identifico. O que não chega a ser algo bom.
Aos que se aventurarem, boa leitura.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

As Palavras Andantes - Eduardo Galeano

Galeano é dos raros poetas que falam tão bem quanto escrevem.
Conheci o autor ao assistir um episódio da série Sangue Latino.
A entrevista é linda de doer, link aqui . Ao contrário do que é escrito na descrição do vídeo, a série é de Eric Nepomuceno, o mesmo que traduz a maioria de seus livros pro português.
Depois de assistir ao documentário, se for como eu, vai sair correndo pra uma livraria pra comprar qualquer coisa do uruguaio.
Mas volta aqui, deixa eu contar mais.
Apesar do apelo emocional do Livro dos Abraços (quantas vezes abro um livro pra ser abraçada?), na prateleira me chamou mais atenção o Palavras Andantes.
A capa é ilustrada pelo inconfundível José Francisco Borges, cordelista celebrado no mundo inteiro (menos em São Paulo). Ceramista, carpinteiro, trabalhador rural, pedreiro e pintor de paredes, J. Borges escreveu e ilustrou cerca de 300 cordéis, expôs suas gravuras e dar palestras no mundo inteiro e é o maior cordelista vivo que se tem notícia.
Mais à frente, no prefácio:
"Visto de perto, ninguém é normal". Galeano com prefácio de Caetano.
Juntei minhas moedas e fui pra casa ansiosa encontrar o Brasil no Uruguai.
O livro, em si, é cheio de Janelas, recheadas de pequenos contos fantásticos e devoráveis em duas tardes.
A primeira janela é sobre o próprio livro, onde o autor explica como foi parar na oficina de Borges em Bezerros, no interior do Nordeste, sobre como surgiu o projeto do livro, e as palavras projetadas que ao cordelista não diziam muito.
Então que Galeano para de dizer e começa a contar (e cantar), e assim o livro flutua, cheio de pequenas histórias que muito lembram a temática fantástica de cordel do nordeste brasileiro.
Galeano, com a ajuda de Borges, reuniu essas palavras andantes num livro bonito e despretensioso pra assim deixá-las voar mais longe.
Sem dono e de todo mundo.

Observações:
- Alguns dos trechos de Palavras Andantes estão também em Livro dos Abraços.
- Entre tantas janelas: sobre as proibições, sobre o adeus, sobre a memória, os ciclos, Palavras Andantes é uma janela pra dentro de cada brasileiro.
- Como disse um comentário no vídeo do documentário, que bom ser contemporânea de Eduardo Galeano.

terça-feira, 26 de março de 2013

A Paixão Segundo G. H. - Clarice Lispector

Todo exemplar de livro tem uma jornada de nascimento, coisa que o criado mudo sabe bem, mas não conta.
Às vezes vai parar nas nossas mãos por mera atração física.
Edições raras viram troféu na estante, tamanho o fetiche.
Tem casos que nos foi apresentado por um amigo em comum - "ele combina tanto com você!".
Posso dizer que já aconteceu - me apaixonar pelo nome.
Também já me tombei pela estirpe. Sem contar o velho acaso.
Ao tirar da prateleira, com a finalidade de anotar trechos aqui pro Todo Ponto, tirei a camada de pó da capa e o peito denunciou uma saudade.
Cheio de anotações e uma dedicatória bonita da Maíra, presente amiga, na época prestes a viajar pra longe, por um ano.
Foi o livro de estreia do Livrando.
Livrando é uma espécie de clube do livro/desculpa pra conhecer gente incrível e tomar bons vinhos que acontece quinzenalmente entre amigos, na casa da Clarice e do Paulo, casal anfitrião da mais alta gentileza, mais fina trilha sonora e maiores orgias gastronômicas.
Surgiu em 2011 e trouxe as melhores noites da minha vidinha pacata paulistana.
O livro não poderia ter sido melhor escolha. Fez com que nos apaixonemos uns pelos outros e mais ainda pela Clarice.
Clarice.
Clarice dispensa muitas apresentações.
Aliás, Clarice talvez precise ser desapresentada.
É tanta frase atribuída, tanto clichê. Nenhum descontexto que faça jus à nossa maior autora.
A Paixão Segundo G.H. é um livro difícil, dolorido. É um renascimento.
Foi lido e analisado à exaustão, tocando a alma de cada um envolvido nessa primeira leitura.
O enredo, se eu contar assim, é banal.
G.H., após despedir a empregada, resolve fazer uma faxina na área de serviço (área estranha a ela até então). Inicia aí uma jornada de horror e renascimento, chegando até o negado selvagem, nosso instinto primário. Kakfiana, esmaga a barata contra a porta de um armário e resolve provar da gosma branca.
Aos poucos, entramos na imensidão do interior de G.H., sua vida, suas dúvidas, seus amores, transcendendo o cotidiano, num intenso diálogo que tenta a lançar pra fora do humano e observar a si com a visão de uma barata, estranha à civilização e prestes a explodir.
Assim, o livro, é universal.
G.H. bravamente percorre toda a distância que nos separa da barata.
Clarice procura o humano que nos resta ao atravessar aquele animal, considerado nosso oposto, com os próprios dentes.
E dentro de G.H. encontramos cada um de nós. É impossível não se deixar levar por tantas questões comuns, tantos espelhos. Impensável, porém possível, passar incólume (afinal existem também os daltônicos das letras).
Alerta na primeira página:

A POSSÍVEIS LEITORES
Este livro é como um livro qualquer.
Mas eu ficaria contente se fosse lido apenas
por pessoas de alma já formada.
Aquelas que sabem que a aproximação,
do que quer que seja, se faz gradualmente
e penosamente - atravessando inclusive
o oposto daquilo que vai se aproximar.
Aquelas pessoas que, só elas,
entenderão bem devagar que este livro
nada tira de ninguém.
A mim, por exemplo, o personagem G.H.
foi dando pouco a pouco uma alegria difícil;
mas chama-se alegria
C.L.

Clarice que me permita a ousadia de ter lido sem ter alma formada.
Também me pergunto, agora, se alguém a tem.
Clarice não dá ponto sem nó (não é isso um bom autor?).
A Paixão Segundo G.H. é uma escolha. Difícil.
Não é livro pra quem compartilha frase de auto ajuda usando o peso de Lispector.
É livro pra gente grande. Que sabe ser do tamanho de uma barata.
E chama-se alegria.

Anotação randômica:
- Com a nova lei trabalhista de empregadas, fico imaginando Danuza Leão comendo barata.
- Barata é proteína?

segunda-feira, 11 de março de 2013

O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald

Existem livros bons.
Existem livros gostosos de ler.
Existem livros envolventes.
Existem livros que você se apaixona pelas personagens.
Existem livros que você não quer que terminem nunca (e fica na dúvida se devora tudo ou se economiza páginas).
E existem livros que são tudo isso e mais um pouco, como é o caso de O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald.
O primeiro pensamento que me vem à mente após terminar a leitura é entender como Fitzgerald não é idolatrado ferozmente fora dos Estados Unidos. Estilo, construção de personagens, enredo.
Tudo se encaixa. Habilidade de Hemingway com suavidade de Cole Porter.
Meu amor por esse livro começou cedo, no dia da compra.
Encontrei o exemplar laranjinha, edição da Penguin, no dia em que realizei meu sonho de conhecer a Shakespeare and Co. em Paris. Encontrei-o no meio daqueles milhões de livros antigos empilhados, ao lado de um Machado de Assis em inglês, enquanto um cliente tocava piano no andar de cima.
Puro fetiche.

O narrador é o comerciante Nick Carraway, ou "old sport". Com o tempo, fica amigo de seu vizinho, o misterioso Jay Gatsby. Gatsby é um milionário (provavelmente um gângster), popular pelas festas glamourosas que oferecia em sua casa em West Egg.
Nick logo descobre que Gatsby não era assim tão vazio. Oferecia as festas na esperança de encontrar por acaso sua amada Daisy, casada há cinco anos com Tom.
Tom é um bígamo preconceituoso, republicano e com um pronto discurso conservador sobre toda e qualquer coisa. A definição de hipócrita no dicionário.
A gente fica torcendo pelo Gatsby, claro, que durante o livro se transforma, de magnata intocável a um apaixonado sensível e vulnerável. Mas como acontece na vida, nem sempre quem inspira o amor está a altura de quem sente.
O conflito entre Gatsby, Tom e Daisy desencadeia uma série de acontecimentos que tirariam todo o gosto do livro se eu contasse.
É uma crítica ferrenha e delicada (o estilo de F. Scott prova que é possível essa combinação) ao "Sonho Americano", que contaminou o mundo todo até hoje.
Cheio de paixão, ingratidão, e sem compromisso com o final Hollywoodiano, trágico.
Como se mostra a vida.

Anotações randômicas:
- Se puder, leia em inglês. Não é uma leitura difícil, pelo contrário. Fitzgerald é um dos poucos autores que sabem ser elegantes com muita facilidade em língua inglesa.
- Deve ser muito difícil traduzir um livro desses. Imagino o tradutor perdendo o sono com a expressão "old sport", se decidindo por "velho companheiro" (como está na versão em português). Com certeza passou o resto da vida imaginando novas soluções. Epitáfio: "Tentei".
- Quem gosta de Christian Grey não conheceu Jay Gatsby.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Memórias de Minhas Putas Tristes - Gabriel García Márquez

A ideia inicial era fazer um texto pra publicar aqui sobre Cem Anos de Solidão, mas comecei várias vezes e não soube que caminho trilhar.
Não é tão fácil assim falar sobre seu livro favorito, que te acompanha há muitos e muitos anos.
Portanto, resolvi ir de García em uma das suas produções mais atuais e polêmicas, Memórias de Minhas Putas Tristes.
O enredo é um prato cheio pra patrulha do politicamente correto: um jornalista/crítico musical (veja bem, crítico musical), ao fazer noventa anos, resolve negociar como presente para si mesmo uma noite de amor com uma adolescente virgem. Pra isso, procura Rosa Cabarcas, cafetina conhecida na cidade, que sempre avisava de suas "novidades", aos clientes assíduos, entre eles, o velhote.
Não preciso dizer que é um livro um pouco sensível aos corações mais feministas, dada a maneira que a moça, de 14 anos, é sondada e negociada.
Mas talvez não tenha alcançando muita voz de protesto pelo peso e maestria do nome Gabriel García Márquez, além da maneira com que a noite de sexo nunca é consumada de fato.
Sobre o protagonista/narrador, encontramos um homem que sempre evitou o amor ao máximo. Conta em suas memórias que havia, inclusive, abandonado uma noiva no altar. E também que nunca dormiu com uma mulher sem pagar por ela.
Até então, aos meus olhos, uma personagem não muito fascinante nem carismática.
Mas há o momento surpresa, que é quando constata: "O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança".
O leitor nesse momento percebe que ali existe um coração, embora enrugado.
Feita a negociação, o velho jornalista se vê numa cama ao lado de Delgadina, adolescente de 14 anos que dorme, como uma bela adormecida esperando seu príncipe caidão.
O problema é que ele não tem coragem de acordá-la e, aos 90 anos, acaba se apaixonando por uma mulher que apenas, dorme. Talvez a conquista mais fácil da história da literatura.
Como todo enredo de Márquez, é possível apenas ler a história ao pé da letra. Mas como todo autor da classe gênia, não existe ponto sem nó, nem metáfora desintencional.
O que diferencia Gabriel do resto é que ele não parte da pretensão de criar uma moral da história, apenas fornece o convite a pensarmos nas seguintes questões:
Porque ele não a acorda? O que representa essa mulher adormecida? E se ele a acordasse?
Aos 90 anos, quantos amores dormindo este senhor não deixou de acordar? E você?
Sim, é a história de um homem incapaz de amar. E que, mesmo apaixonado, não tem a coragem de trazer à vida esse sopro de juventude.
Se é um livro sobre esperança ou sobre a falta dela, cabe apenas ao leitor identificar.

Anotações randômicas:
- O livro, não só pelo enredo, vale pelas pastilhas de epifania literária típicas de Gabriel: "tragar as lágrimas", "senti na garganta o nó górdio de todos os amores que poderiam ter sido e não foram", e por aí vai. Quem já leu Cem Anos sabe bem.
- Muitas pessoas se sentiram esperançosas e leram no livro uma mensagem de "nunca é tarde para amar". Eu li o contrário. Talvez isso denuncie meu coração gelado. Pra mim era tarde sim, e ele sabia muito bem disso. Mas não existe interpretação correta.
- Como disse um amigo, quem mais poderia tornar bonito o encontro de um Charlie Sheen colombiano nonagenário com uma sofrida virgem de 14 anos, além do Gabbo?

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Coisas com as quais se preocupar, carta de F. Scott Fitzgerald


Linda carta escrita por F. Scott Fitzgerald à sua filha Scottie, na época com 11 anos.
Tradução exclusiva Todo Ponto.

La Paix, Rodgers' Forge
Towson, Maryland

8 de Agosto de 1933

Minha querida:

Me interesso bastante pelo seu atual dever de casa. Você me daria um pouco mais informações sobre suas leituras em Francês? Eu fico contente por você estar feliz — mas eu nunca acreditei muito em felicidade. Eu também nunca acreditei em tristeza. Essas coisas você vê no palco, ou na tela, ou em folhas impressas, mas nunca acontecem realmente com você durante a vida.

As coisas que eu acredito nessa vida são as recompensas pelas suas virtudes (de acordo com seus talentos) e as punições por não cumprir seus deveres,  que são duplamente custosos. Se houver este volume na livraria do Acampamento, você poderia pedir à Mrs. Tyson para te deixar ver um soneto de Shakespeare, no qual ocorre o verso "O lírio, quando apodrece, exala cheiro pior que o de qual­quer outra flor".


Não tive nenhum pensamento no dia de hoje, a vida parece composta de acordar com uma história do Saturday Evening Post. Eu penso em você, sempre e de uma maneira agradável, mas se você me chamar de "Pappy" outra vez eu vou pegar o Gato Branco e bater nele com muita força, seis vezes pra cada vez que você for impertinente… Você reage a isso?

Eu pagarei a conta do acampamento.

Tolo, eu concluirei.

Coisas com as quais se preocupar:

Se preocupe com a coragem
Se preocupe com a limpeza
Se preocupe com a eficiência
Se preocupe com equitação
Se preocupe. . .

Coisas com as quais não se preocupar:

Não se preocupe com a opinião popular
Não se preocupe com bonecas
Não se preocupe com o passado
Não se preocupe com o futuro
Não se preocupe com crescer
Não se preocupe alguém estar a sua frente
Não se preocupe com triunfo
Não se preocupe com as falhas, a não ser que elas venham por sua própria culpa
Não se preocupe com mosquitos
Não se preocupe com moscas
Não se preocupe com insetos em geral
Não se preocupe com seus pais
Não se preocupe com garotos
Não se preocupe com decepções
Não se preocupe com prazeres
Não se preocupe com satisfações

Coisas para pensar: 

O que eu estou procurando exatamente?
O quão boa sou eu em comparação a meus contemporâneos com relação a:

(a) Escolaridade
(b) Eu realmente entendo as pessoas e sou capaz de me dar bem com elas?
(c) Eu estou tentando fazer de meu corpo um instrumento útil ou estou negligenciando-o?

Com o maior amor,

Daddy

P.S. A minha vingança por você me chamar de Pappy será batizar você da palavra Ovo, o que implica que você pertence a um estado de vida bastante rudimentar e eu poderia quebrar você e abrir você de acordo com minha vontade, e eu acho que seria uma palavra que pegaria se eu contar aos seus colegas. "Ovo Fitzgerald." Como você gostaria de passear pela sua vida com — "Ovinho Fitzgerald" ou "Ovo Estragado Fitzgerald" ou qualquer forma que possa ocorrer em mentes férteis? Tente novamente eu juro por Deus que eu vou colocar esse nome em você e só dependerá de você tirá-lo. Porque você gostaria de tamanha encrenca?

Amor incondicional.

sábado, 19 de janeiro de 2013

As cidades Invisíveis - Ítalo Calvino

Esse é um daqueles livros difíceis de escrever sobre.
Talvez porque o segredo não esteja tanto no enredo, mas sim na maestria discursiva do autor.
Sobre Le città invisibili, livro mais conhecido de Calvino, o autor disse:
"Se meu livro As cidades invisíveis continua sendo pra mim aquele em que penso haver dito mais coisas, será talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as minhas reflexões, experiências e conjeturas."
E é isso mesmo. É incrível como a descrição de uma cidade pode conter em si tanto simbolismo.
O livro gira em torno das descrições do viajante Marco Polo sobre as cidades que já visitou, a mando do imperador Kublai Khan, que a partir dos relatos deseja construir o império perfeito.
O enredo tem um viés histórico.
Marco Polo viajou durante 30 meses e chegou ao império de Kublai Khan (neto de Gengis Khan), onde atualmente fica Pequim, e lá permaneceu na corte por quase 20 anos.
Ítalo criou a obra imaginando relatos extraordinários do viajante ao imperador.
As 55 cidades descritas têm nome de mulher e aspectos de realismo fantástico (estilo que eu, pessoalmente,  amo).
São enredos de sonho, daqueles que a gente acorda, anota, e passa o dia tentando entender o que o nosso subconsciente tentou dizer com tantas curvas.
Ítalo vestiu suas experiências de curvas, tornou-as mulheres e cidades. E o mais incrível é que essas silhuetas se adaptam às nossas próprias lembranças.
É um livro para se ler devagar, mastigando cada palavra bem devagarzinho, pra ver se não escapa nenhuma cor.
Também é um livro para se ler mil vezes, um descanso de alma que só é entende quem tem paixão por poesia e por encontrar umas verdades aqui e ali, entre as esquinas de palavras e cruzamentos de linguagem.
O vídeo abaixo, As Cidades e o Desejo, anima o conto de uma das cidades, Zobaide. É um vídeo maravilhoso. Muito me espanta a pouca quantidade de views, mas isso já é outro conto.
Leitura essencial, obrigatória e - ah, muito! - deliciosa.


Anotação Randômica:
- Diogo Mainardi ser tradutor de um dos meus livros preferidos é uma mosca na minha sopa, viu...